quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Editorial do Jornal de Angola de 12 Nov 2012

Editorial

Jogos perigosos

12 de Novembro, 2012
Camões, faminto de tudo, até de pão, na hora da partida desta vida, descontente, ainda foi capaz de um último grito de amor. Morreu sem nada, mas com a sua ditosa e amada pátria no coração. Ele que sofreu as agruras do exílio e foi emigrante nas sete partidas, escorraçado pelos que se enfeitavam com a glória de mandar e a vã cobiça, morreu no seu país.
O mais universal dos poetas de língua portuguesa deixou-nos uma obra que é o orgulho de todos os que falam a doce e bem-amada língua de Camões. Mas também deixou, seguramente por querer, a marca das elites nacionais que o desprezaram e atiraram para a mais humilhante pobreza. O seu poema épico acaba com a palavra Inveja. Desde então, mais do que uma palavra, esse é o estado de espírito das elites portuguesas que não são capazes de compreender a grandeza do seu povo e muito menos a dimensão da sua História.
Nós em Angola aprendemos, desde sempre, o que quer dizer a palavra que fecha o poema épico, com chave de chumbo sobre a masmorra que guarda ciosamente a baixeza humana. A inveja moveu os primeiros portugueses que chegaram à foz do Rio Zaire e encontraram gente feliz, em comunhão com a natureza. Seres humanos que apenas se moviam para honrar a sua dimensão humana e nunca atrás de riquezas e honrarias.
A inveja fez mover os invasores estrangeiros nesta imensa terra angolana. Inveja foi o combustível que alimentou os beneficiários da guerra colonial. Inveja foi o estado de alma de Mário Soares quando entrou na reunião do Conselho da Revolução, que discutia o reconhecimento do novo país chamado Angola, na madrugada de 10 para 11 de Novembro de 1975. Roído de inveja e de cabeça perdida porque a CIA não conseguiu fazer com êxito o seu trabalho sujo contra Angola, disse aos conselheiros, Capitães de Abril: não vale a pena reconhecerem o regime de Agostinho Neto porque Holden Roberto e as suas tropas já entraram em Luanda. Uma mentira ditada pela inveja e a vã cobiça.
A inveja alimentou em Portugal o ódio contra Angola todos estes anos de Independência Nacional. E já lá vão 37! Os invejosos e ingratos para com quem os quer ajudar estão gastos de tanto odiar. Que o diga a chanceler Ângela Merkel, que ajudou a salvar Portugal da bancarrota, mas é todos os dias insultada. Recusam aceitar que foram derrotados depois de alimentarem décadas de rebelião em Angola, de braço dado com as forças do “apartheid” de uma África do Sul zelosa guardiã da humilhação de África.
As elites políticas portuguesas odeiam Angola e são a inveja em figura de gente. Vivem rodeadas de matilhas que atacam cegamente os políticos angolanos democraticamente eleitos, com maiorias qualificadas. Esse banditismo político tem banca em jornais que são referência apenas por fazerem manchetes de notícias falsas ou simplesmente inventadas. E Mário Soares, Pinto Balsemão, Belmiro de Azevedo e outros amplificam o palavreado criminoso de um qualquer Rafael Marques, herdeiro do estilo de Savimbi.
Os angolanos estão em festa pela Independência Nacional. Em Portugal, a nova Procuradora-Geral da República foi a Belém onde deve ter explicado a Cavaco Silva as informações que no mesmo dia saíram na SIC Notícias e no “Expresso”, jornal oficial do PSD, que fizeram manchetes insultuosas e difamatórias visando o Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, que acaba de ser eleito com mais de 72 por cento dos votos dos angolanos. Militares angolanos com o estatuto de Heróis Nacionais e ministros democraticamente eleitos foram igualmente vítimas da inveja e do ódio do banditismo político que impera em Portugal, neste 11 de Novembro, o Dia da Independência Nacional. A PGR portuguesa é amplamente citada como a fonte da notícia. A campanha contra Angola partiu do poder ao mais alto nível. Mas como a PGR até agora ficou calada, consente o crime. As relações entre Angola e Portugal são prejudicadas quando se age com tamanha deslealdade. A cooperação é torpedeada quando um ramo mafioso da Maçonaria em Portugal, que amamentou Savimbi e acalenta o lixo político que existe entre nós, hoje determina publicamente o sentido das nossas relações, destilando ódio e inveja contra os angolanos de bem. Da boca para fora, são sempre amigos de Angola e dos angolanos, da Alemanha e dos alemães. Enchem os bornais de dinheiro, à custa de Angola, comem à custa da Alemanha. Sobrevivem à miséria, usando como último refúgio a antiga “jóia da coroa”, feliz expressão do capitão de Abril Pezarat Correia. Mas na hora da verdade, conspiram e ofendem angolanos e alemães, usando a sua máquina mediática.
“De sorte que Alexandre em nós se veja,/ sem à dita de Aquiles ter inveja.” Estes são os dois últimos versos de Camões no seu poema épico. Os restos do império, que estrebucham na miséria moral, na corrupção e no embuste, deviam render-se à evidência. Angola não é um joguete! Nós somos Aquiles! Tão grandes e vulneráveis como ele. Mas não tenham Inveja do nosso êxito, porque fazemos tudo para merecê-lo.

Atentemos, pois, a este artigo in Jornal de Angola

Fome em Portugal

12 de Novembro, 2012
Portugueses atravessam uma grave situação social e as escolas públicas são chamadas a apoiar as crianças com merendas
Fotografia: AFP


A crise económica e os cortes orçamentais estão a afectar as famílias portuguesas. O secretário de Estado da Educação de Portugal, José Casanova de Almeida, revelou durante uma audição numa comissão parlamentar, que 10.385 alunos de 253 escolas públicas portuguesas apresentam graves carências alimentares.
Metade dessas crianças está a ser apoiada através de um programa governamental de merenda escolar denominado “Pequeno-Almoço na Escola”, mas as associações de pais dizem que as refeições não estão a chegar às escolas.
Os alunos portugueses que têm de tomar a primeira refeição do dia na escola, por falta de condições das suas famílias, já são 5.547 e correspondem, segundo o secretário de Estado, a 51 por cento dos casos reportados pelos professores. As famílias destas crianças também são apoiadas pelo Banco Alimentar contra a Fome, cuja responsável, Isabel Jonet, apoia e aplaudiu publicamente as medidas governamentais que visam o empobrecimento dos portugueses.
Estes números só agora foram revelados, mas já desde 2010 se sabe que 285 mil pessoas em Portugal recebem ajuda do Banco Alimentar contra a Fome e que, dessas, 33 por cento são crianças e 40 por cento idosos. A presidente do Banco Alimentar, Isabel Jonet, informou que 94 mil crianças são assistidas por dia, número que aumenta se forem incluídas as crianças famintas da região da Madeira. A fome nas escolas tem maior incidência nos grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto, mas estende-se praticamente a todo a país.
Os idosos com reformas ou pensões abaixo dos 200 euros também fazem parte dos milhões de portugueses que passam fome. Com o Estado Social em desagregação, um milhão de desempregados vê os seus subsídios diminuir drasticamente ou mesmo serem eliminados. Há famílias inteiras sem salários e sem subsídios de desemprego. O Governo PSD-CDS, apoiado pelo Presidente Aníbal Cavaco Silva, viu aprovado na Assembleia da República um Orçamento Geral do Estado que vai lançar na pobreza extrema milhões de portugueses e agravar a situação de fome. Um jornal londrino especializado em economia mudou o nome de Portugal para Pobretugal. Enquanto a situação social se torna insustentável, o primeiro-ministro Passos Coelho e o ministro dos negócios Estrangeiros e líder do CDS, Paulo Portas, impuseram aos portugueses mais um corte de quatro mil milhões de euros que vai afectar sobretudo a Educação, a Saúde e as prestações sociais.
A greve geral marcada para o próximo dia 14 pela central sindical CGTP-IN é uma resposta às “políticas de austeridade” e tem a adesão da associação das micro, pequenas e médias empresas. Pela primeira vez em Portugal uma greve junta trabalhadores e patrões contra o governo.


Banca na falência

O sector da Banca em Portugal está praticamente falido e os banqueiros neste momento dedicam-se apenas à agiotagem. Recebem dinheiro a juros baixos do Banco Central Europeu e emprestam-no depois com taxas de juros muito mais altas. O principal cliente e “parceiro” é o governo de Passos Coelho e Paulo Portas.
As duas grandes empresas de distribuição, cujos proprietários apoiaram o PSD nas últimas eleições, estão a registar brutais quebras nas vendas. Belmiro de Azevedo, que fez campanha pelo PSD, é o mais penalizado. Os banqueiros mais próximos do governo estão a fazer tudo para entrar no negócio das privatizações, cujo “consultor” governamental é António Borges e ao mesmo tempo braço direito do patrão da rede Pingo Doce. Tentam assim fugir da falência.

Escutas telefónicas

A credibilidade da justiça portuguesa continua a ser posta em causa e o país é apontado como estando mergulhado na corrupção generalizada que envolve as mais altas esferas do poder político, das finanças, da comunicação social e até do desporto.
O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, foi alvo de escutas telefónicas e o Procurador-Geral, Pinto Monteiro, um dia antes de abandonar o cargo, enviou-as para o Supremo Tribunal de Justiça a fim de serem validadas.
Conversas de Passos Coelho com o banqueiro José Maria Ricciardi, do Banco Espírito Santo, foram validades pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça e vão servir de meio de prova no processo “Monte Branco”, que envolve banqueiros portugueses e suíços (Michel Canals, Nicolas Figueiredo, José Pinto e Ricardo Arcos Castro) e um cambista (Francisco Canas) detidos em Maio pela Polícia Judiciária portuguesa por suspeita de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Três estão em prisão preventiva e dois estão em liberdade depois de terem pago uma caução.
O anterior primeiro-ministro, José Sócrates, também foi submetido a uma investigação judicial na sequência de escutas telefónicas no processo “Face Oculta”. Os políticos ligados aos partidos do poder que roubaram milhares de milhões de euros do Banco Português de Negócios (BPN) continuam impunes e têm cumplicidades entre os magistrados. Mas até agora nenhuma figura pública foi para a prisão, nem mesmo os responsáveis das práticas de abusos sexuais sobre crianças realizadas durante largas décadas na Casa Pia de Lisboa. Alguns arguidos estão em prisão domiciliária mas ninguém os controla, pelo que continuam a fazer uma vida normal e alguns mantêm intactos os seus esquemas de corrupção.
O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, considerou a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, “uma barata tonta”. A ineficácia da Justiça, a apetência de magistrados para se envolverem na política e a permeabilidade do poder político aos negócios escuros, fizeram de Portugal um paraíso para gangsters internacionais que actuam impunemente no país e têm o apoio dos partidos do “arco do poder”.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Crescimento... crescimento.. crescimento...

Toda a economia está assente num paradigma insustentável. Não podemos estar sempre a crescer, nem tão pouco crescer todos ao mesmo tempo, comprar mais, consumir mais. Tudo isto não é sustentável e está encoberto devido a alguns episódios de prosperidade temporária.

O planeta tem recursos limitados, não podemos viver como se tivéssemos recursos ilimitados.